Biodiesel

O governo está apostando num novo produto que poderá se tornar a vedete da balança comercial brasileira a longo prazo: o biocombustível. De olho no futuro, e na oportunidade de ver os combustíveis fósseis serem substituídos pelos combustíveis naturais, feito de produtos agrícolas, renováveis e menos prejudiciais ao meio ambiente, o secretário de Tecnologia da Produção do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Jairo Klepacz, começa o ano em viagens para atrair investidores em bioenergia para o Brasil e aumentar a produção.

“Temos maiores vantagens perante os outros países: espaço e clima para produzir. Hoje fazemos biodiesel de soja, palma, babaçu e dendê, além de termos uma indústria alcooleira sólida. Temos uma liderança importante e estamos em busca de investidores para tornar o Brasil num líder mundial na produção de biocombustível”, contou Klepacz, que esta semana embarcou para a Europa para mostrar o combustível brasileiro. “Este é um ano em que o etanol e o biodiesel estarão na pauta de todos os países desenvolvidos, e na nossa também”, defendeu.
Por enquanto, a produção brasileira de biocombustível é pequena, e é usada principalmente no consumo interno. “Hoje á uma percepção clara pela substituição dos combustíveis fósseis. É um processo longo, para cerca de dez anos, mas o Brasil é uma das grandes experiências nessa área e estamos dispostos a colocar esse assunto entre nossas prioridades”, destacou o secretário.
No fim do ano passado, a Petrobras anunciou que aceleraria seus investimentos na área de biodiesel para iniciar uma produção sistemática do combustível a partir de 2006, quando terá exclusividade na distribuição da mistura de 2% no diesel.

A primeira unidade de biodiesel da estatal deverá ser implantada no Mato Grosso do Sul. Outras três também deverão começar a funcionar ainda este ano, uma em Candeias (BA), Quixadá (CE) e Montes Claros (MG), cada uma com capacidade para processar 44 mil toneladas de matérias-primas como mamona, soja, algodão, nabo, forrageiro e pinhão manso. A Petrobras pretende investir US$ 381 milhões no biodiesel até 2010, mas estima utilizar esses recursos antes de terminar o prazo. Até agora já foram investidos US$ 5 milhões em pesquisas.

Além da Petrobras, no ano passado, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) colocou a disposição uma linha de crédito para a produção de biodiesel chamado “Programa de Apoio Financeiro a Investimentos em Biodiesel”. “Tomamos conhecimento de dois fabricantes de veículos que irão colocar ônibus totalmente a biodiesel rodando em Fortaleza como experiência para o resto do mundo. Eles vão avaliar o desempenho, o consumo. Tem bastante gente já investindo”, destacou Klepacz.

Apesar de estar em fase mais adiantada, o setor sucroalcooleiro é o que tem enfrentado dificuldade até para abastecer o crescente mercado interno. Com o lançamento dos carros com motor flex fuel, que aceitam tanto gasolina como álcool como combustível, o álcool voltou ao status de vedete. No entanto, a produção nacional não foi capaz de acompanhar o crescimento da demanda. “Já trabalhamos com o álcool combustível há muito tempo e, depois da primeira experiência, aprendemos muito. O fato é que precisamos aumentar a produção, atrair investimentos para construir mais usinas”, enfatizou o secretário.

Dentro do Ministério da Agricultura, o pensamento é o mesmo. “Por enquanto exportar é difícil. Os investimentos de hoje não comportam o aumento da demanda interna e externa. temos que fazer acordos com outros países fornecedores para acelerar os investimentos . Trazer empresas para produzir aqui no Brasil”, comentou o assessor de Departamento da Cana-de-açúcar e Agroenergia do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, Nilton Souza Vieira.
O Brasil é líder mundial na produção de açúcar e maior exportador, com 40% do mercado.
No ano passado, o Brasil exportou 2,6 bilhões de litros, ou US$ 670 milhões, de álcool. Em 2004 foram vendidos ao exterior 2,4 bilhões de litros, e em 2003 foram 600 milhões de litros. A grande parte do produto foi para os Estados Unidos, de maneira direta ou indireta (via América Central). “Os Estados Unidos consomem 15 bilhões de litros por ano. Desse total, importam 1 bilhão. Com o aumento do percentual do álcool na gasolina de vários estados, a tendência é que o consumo cresça rapidamente”, disse Vieira.

O segundo maior importador de álcool brasileiro é o Japão. No entanto, o produto que os japoneses compram é o álcool hidratado, que acaba sendo usado em bebidas, cosméticos e produtos químicos. No ano passado, o Ministério da Agricultura o Japan Bank for Internacional Cooperation (JBIC) firmaram termo de referência para a futura implantação de um programa bilateral de biocombustível com vistas à exportação de etanol e biodiesel para o mercado japonês. Em 2003, o governo japonês regulamentou a lei que autoriza a adição de até 3% de álcool à gasolina.

“O interesse é financiar projetos de longo prazo capazes de aumentar a produção brasileira, principalmente em expansão das áreas de plantio de cana-de-açúcar, na instalação de novas destilarias e na modernização da infra-estrutura de estocagem e transporte de etanol, para garantir a exportação contínua e regular do produto para o Japão. Com isso, o Brasil teria excedentes exportáveis para atender o mercado japonês que já começa com uma demanda de 1,8 bilhão de litros por ano”, contou Vieira.

Anualmente, o Brasil consome cerca de 13 bilhões de litros de álcool combustível, puro ou misturado à gasolina. O Japão também está interessado na importação de óleo de mamona para a fabricação do biodiesel (mistura do óleo ao diesel de petróleo), que será utilizado no Brasil a partir deste ano. O futuro acordo bilateral também deve prever o estímulo à fabricação de biodiesel no Nordeste.

A Agência Internacional de Energia (AIE) apontou no ano passado o Brasil como um dos países com maior competitividade no mundo na produção de biocombustíveis como etanol e diesel a partir de vegetais. Ao mesmo tempo, suas projeções são de que os biocombustíveis poderão suprir 30% do combustível usado globalmente pelos meios de transportes até 2020, comparado a apenas 2% atualmente.
Para a AIE e também para a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), o Brasil é um dos países com maior capacidade de abocanhar fatias de mercado de energia renovável, aumentando a renda da exportação agrícola, ao lado de China, Índia, Malásia e África do Sul. Rick Sellers, economista da AIE, calcula que enquanto o preço do barril do petróleo estiver acima de US$ 25, a competitividade do Brasil é indiscutível.

A Unctad estuda a possibilidade de levar a experiência do Brasil com etanol e diesel de vegetais para outros países em desenvolvimento. O organismo parte da constatação de que o aumento do preço e da demanda por petróleo, aliado a mudanças climáticas, aumentarão as pressões para o desenvolvimento e exportação de produtos e serviços de energia renovável. Esse setor gerou de US$ 30 a 40 bilhões em 2003, e o comércio internacional desses produtos foi de US$ 4 bilhões.

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